Ela já quis ser bailarina
Fez aulas de teclado
Aprendeu um pouco de inglês, o outro pouco ela esqueceu.
Arranhava um pouco de espanhol, bem pouco.
Ela cresceu:
O pai falou em Direito
Ela pensou em Letras
A mãe, a madrinha e mais meia dúzia de amigas delas, também professoras, disseram não.
Ela sozinha conheceu a publicidade
E se apaixonou
Durante a faculdade a vida lhe deu um presente: Uma amiga. Daquelas bem falantes, constante e intensa. Única... Só dela. E a cada vez que elas se encontram, podem ter se passado meses, ou até anos, mas a sensação é a mesma: De que se viram há poucos minutos. O assunto e a afeição são cada vez maiores.
Lá ela também conheceu um grande amigo, que chegou a pensar que era amor. Mas não era e nem era dela.
Ela terminou a faculdade.
Formou-se numa festa linda, mas linda mesmo.
Mas ela estava tão encantada com o momento que se esqueceu das fotos.
E chorou por isso quando o dia amanheceu
Mal sabia que aquelas imagens ficariam guardadas, de uma maneira mais que especial, pra sempre em sua memória, de um jeito único. De um jeito só dela, que só ela conheceria.
Hoje ela sabe disso, sempre que deseja, todas aquelas imagens reacendem em sua memória. E quando ela lembra da manhã seguinte a sua formatura, ela ri e pensa: Boba!
Ela foi trabalhar e também conheceu muita gente: Pessoas boas, que só queriam ajudar; Pessoas companheiras que queriam estar sempre por perto; Pessoas ruins que desejavam e faziam mal; Pessoas tristes e maltratadas pela vida e pessoas que eram tristes e maltratadas por elas mesmas. E esse foi seu primeiro contato com o mundo real.
Também conheceu o amor. E ela tinha certeza desde o começo que era amor. E só seu.
E a cidade do interior ficou pequena e longínqua pra tanto amor e tantas idéias.
E pra dar certo, ela correu atrás. Ela mudou.
Mas não mudou por ele, mudou por ela mesma.
Ela virou mulher, mas às vezes deixa transparecer a linda menina que mora em seus olhos.
E junto com essas mudanças vieram responsabilidades, como acordar cedo sozinha, comprar uma máquina de lavar e falar pouco ao telefone.
Ela tem um emprego na cidade grande. Um emprego que também lhe foi um presente de uma “nova” família que ela começou a amar espontaneamente.
Ela gosta do emprego. Mas não convence a ninguém, nem a ela mesma.
Mas é preciso... É preciso pra amadurecer de verdade.
Ela quer crescer, mas não consegue ir sem a publicidade, sem suas folhas rabiscadas, sem seus pensamentos soltos. Nem lhe passa pela cabeça deixar tudo isso para trás.
Ela tem grandes sonhos, dentre eles viajar pelo mundo.
Ela já plantou uma árvore, em 2000, ainda no colégio, na comemoração de 500 anos do Brasil. Era um Pau-Brasil.
Quer escrever um livro, a curto prazo
Quer ter um filho (talvez dois, ou até três), mas isso é a longo prazo
Às vezes ela tenta ser como as pessoas comuns.
Mas só tenta.
Ela só quer uma sala arejada, pintada de lilás ou verde limão, com um computador e muito papel, para que possa escrever o que quiser e quanto quiser.
Ela precisa escrever. Escrever faz parte de suas funções vitais. Pra ela é como respirar, comer e dormir.
E olha que ela dorme. E se inspira antes de dormir. Tem papel e caneta ao lado do colchão.
A noite é uma grande conselheira e confidente.
Ela confidencia muitas coisas a noite. Principalmente seus medos: O maior deles é ter que deixar seus textos para trás, para ninguém.
E por ter esse medo ela pára para escrever:
Ela escreve enquanto vê televisão, enquanto lava a roupa e cozinha; Interrompe o banho pra escrever (Sim, ela leva papel e caneta para o banheiro).
Ela escreve no terminal esperando o ônibus, enquanto vê as pessoas passarem.
Enquanto algumas pessoas passam, outras simplesmente vivem.
Ela escreve e essa é sua vida.
Assim o tempo passa.
Ela vê a vendedora de sonhos, que já vendeu todos os de goiabada.
Seu ônibus chega.
Ela entra, senta, se aconchega, guarda o lápis e o papel e vai em paz, com a alma leve.
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