segunda-feira, 5 de abril de 2010

O mistério Machadiano

Passados mais de 100 anos da morte de Machado de Assis, poucas passagens ainda sustentam tanto destaque na literatura Brasileira como as do olhar misterioso e enigmático de Capitu, descritos impecavelmente como: “olhos de cigana obliqua e dissimulada”, e ao mergulharmos mais profundamente na leitura, também encontramos seu olhar intrigante apresentado como “Olhos de ressaca”.
Machado ainda ocupa grande espaço, desde as mídias até as discussões e grupos de estudo: Dificilmente encontra-se uma lista de leitura exigida nos vestibulares brasileiros que não contenha “Dom Casmurro” grande obra desse brilhante escritor.
Capitu caiu no gosto popular (ou quase) no ano final de 2008, quando numa versão erudita foi notavelmente vivida (enquanto adulta) pela atriz Maria Fernanda Cândido na minissérie global, baseada no romance de 1899, que consta como a obra brasileira mais traduzida para outros idiomas.
Até a emissora número um (segundo o ibope) da televisão aberta cedeu aos encantos de Capitu, produzindo uma série lúdica e encantadora, reproduzindo ao pé da letra diálogos e cenas que sempre se inquietaram na mente dos seguidores e admiradores desse gênero literário, o realismo, merecedor de elogios e críticas ferrenhas, desde seu início, em 1881, com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, a ousada trajetória do defunto autor.
Machado é um mito, e seus personagens são verdadeiros merecedores de um espaço na mídia, como em minisséries, no caso de Capitu (2008), ou em adaptações para o cinema, como Capitu, de Paulo César Saraceni (1968), Criador e criatura - o encontro de Machado e Capitu de Flávio Aguiar e Ariclê Perez (1999), Capitu, de Marcus Vinicíus Faustini (1999), Dom de Moacyr Góes (2003) e para ópera, Dom Casmurro, de Ronaldo Miranda e Orlando Codá (1992).
O texto de Machado em Dom Casmurro, e sua adaptações expressam conteúdo, emoção, paixão, intriga e devaneios, deixando tudo sutilmente no ar, numa discussão que atravessa anos: O carater da menina dos olhos negros e profundos; Menina ou mulher? Todos os leitores (e admiradores) se deleitaram com o amadurecimento e despertar de Capitu para vida e para a sociedade carioca.
Mas, o que existe de tão especial na pseudo-aspirante a “carola” que ainda criança se apaixona pelo menino prometido ao clero: Um menino frágil, franzino e medroso, que passa metade da vida temendo a Deus por promessas não cumpridas.
Capitu representa a ousadia, a liberdade ansiada por grande parte das mulheres do século XIX, senão dos dias atuais. Ela mantém o brilho no olhar e sempre enxerga além, para longe dos padrões impostos: A mulher que a bucólica feminilidade brasileira espera se tornar: A mulher que rompe barreiras do machismo e da submissão, embora para aquela época, tantas aventuras fossem apenas, discretamente, permitidas na ficção.
E Bentinho murchava gradativamente com o desabrochar de Capitu, e enlouquecia com a velocidade com que a amada se tornava uma mulher pouco convencional (pelo menos aos seus olhos). Ela era dona de seus deveres e direitos, enquanto a Bentinho, só restavam fantasias e delírios.
É o inesperado desse romance que ainda fascina e desperta tantas discussões e a curiosidade de realitas, estudiosos, ou simples admiradores, que ainda não aprenderam a se contentar com a cultura empobrecida e alienada popularizada riducularmente (salvo raras excessões) pela mídia brasileira.

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