sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Por toda minha vida Cazuza

(Texto de 20/11/09)

Por toda minha vida - Cazuza

Poucas coisas ainda me emocionam na globo, algumas até me decepcionam como Big Brother Brasil e a ressurreição de No Limite, mas dessa vez, o especial “Por toda minha vida” arrancou lágrimas tímidas dos meus olhos.
Pode parecer estranho, mas quando vejo coisas sobre Cazuza me sinto tão parecida com ele. Cazuza era único, estranho, rebelde, sem limites, sem paz. Cazuza era ousado e eu adoro essa palavra. Até hoje conversei com um amigo, publicitário, que atua na área (finalmente um) que os clientes ainda hesitam em optar por campanhas e criações ousadas. Isso em 2009. Nem de longe quero me comparar a ele, não é essa a semelhança.
Mas Cazuza gostava de ficar sozinho, tinha bombardeios de idéias e frases, compunha em bares, na praia, em seu quarto, enquanto dirigia. Não tinha hora e nem lugar para uma boa idéia. E ele soube aguardar o momento certo de por sua criatividade e sua arte à tona. Não sou ousada, sou uma pessoa até comum, e não cabe em mim um espírito de rebeldia no século XXI, num país onde há democracia (pelo menos na teoria), governado por um sindicalista, a princípio de esquerda; Num tempo onde um negro é presidente da maior potência econômica, onde as pessoas voltaram embora do Japão por falta de emprego, devido a crise. O mundo em que a África do Sul, é a sede da próxima copa do mundo. E dessa vez, nem vou falar do Brasil, da Copa e das Olimpíadas de 2016. Não é esse o propósito.
Eu não tenho toda aquela disposição e garra pra perseguir um ideal. Poucas pessoas ainda acreditam em ideais, mas eu ainda me orgulho de fazer parte desse seletivo grupo. Mas enfim, algo muito forte me atraí em Cazuza. Ele era um poeta, um gênio, de carreira marcante e meteórica. Um ser humano que traduzia em linhas e melodias as dores do mundo, do amor, da entrega, ingratidão, remorso, ausência, saudade, solidão... Cazuza passou pela vida, não da maneira mais correta, foi louco e inconseqüente, e essas conseqüências foram suas, pelo menos, era assim que ele achava que deveria ser: Achava que somente ele pagaria por seus erros.
Mas, diante de depoimentos emocionados de amigos como Pedro Bial, Ezequiel Neves, Ney Matogrosso e Bebel Gilberto não foi isso que notou-se e sim um vácuo, uma dor adormecida que desperta com cada pequena lembrança: A de um riso despojado, de palavras debochadas e dos olhos ao mesmo tempo acolhedores e solitários: Olhos confortantes e clementes de ajuda.
Não acredito que exista uma pessoa que não conheça uma música sua, um refrão. Que não tenha pronunciado o célebre “Brasil, mostra tua cara”, seja na época das Diretas, no impeachment do Presidente Collor ou no escândalo do mensalão. Um apaixonado que nunca tenha escrito pra sua amada “Amor da minha vida, daqui até a eternidade”, que não tenha ouvido “Codinome Beija-Flor” após o fim de um namoro, ou usado algo do tipo “Hoje eu acordei com sono e sem vontade de acordar” no Nick do MSN, numa segunda-feira preguiçosa.
Cazuza é parte do Cotidiano de uma geração. Cazuza faz parte da minha vida. Cazuza era livre, polêmico e boêmio. Cazuza gostava de Cartola, e acreditava que “o mundo era um moinho”, ele escolheu o rock, mas não teve vergonha de mudar, de partir para Bossa Nova, não teve vergonha de escrever o que pensava, de mostrar para o mundo o que sentia.
E eu não tenho vergonha ou qualquer outro tipo de receio de dizer com todas as letras que sou fã do menino carioca, nascido e criado em Ipanema, o menino de cabelos encaracolados e rebeldes, o típico “Exagerado”.

E pra selar, uma das minhas preferidas:

"Quando eu estiver cantando,
Não se aproxime.
Quando eu estiver cantando,
Fique em silêncio.
Quando eu estiver cantando,
Não cante comigo.
Porque eu só canto só
E o meu canto é minha solidão.
É a minha salvação.
Porque o meu canto redime o meu lado mau
Porque o meu canto é pra quem me ama
Me ama, me ama".

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