quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Morte
O pequeno Felipe se entristeceu muito quando começou a ouvir falar que seu avô iria morrer e por isso foi conversar com o pai:
- Pai, o vô Felipe vai morrer?
E o pai com toda paciência começou a explicar:
- Vai Felipe, o vô está doente e vai morrer, vai descansar lá no céu...
Luis Felipe começou a chorar, o pai tentou acalmá-lo. Porém, as perguntas não pararam por aí:
- Pai, e o vô Álvaro, ele também vai morrer?
- Vai Felipe, mas não agora, um dia o vô Álvaro vai ficar bem velhinho e cansado, e vai morrer...
Felipe chorou mais um pouco pensando no outro avô e ainda aos prantos, continuou com as perguntas:
- Pai, e você, vai morrer?
- Vou Felipe, um dia o pai também vai morrer, vai ficar velhinho e também vai pro céu.
Nisso, João Vitor, o irmão mais de velho de Luis Felipe, de 11 anos, cansado do lenga lenga resolveu se meter na conversa:
-Ah, Felipe, até eu vou morrer!
E o Felipe, que não tinha gostado nada da interrupção do irmão foi direto:
- Então porque não morre logo!
Luis Henrique, irmão mais novo de Luis Felipe, citado na passagem acima é do tipo de criança atenta, que não perde nenhum detalhe, assim como o irmão, vive de olho em tudo que acontece ao seu redor, principalmente em quem morre ao seu redor.
No meio do ano de 2010, faleceu seu vizinho, Zé Marcondes, com quem ele tinha bastante afeição. Ele acompanhou todo o processo (velório e enterro) sempre atento, principalmente à esposa do Zé Marcondes, a Fátima:
Passado alguns dias, Henrique foi até a casa da vó Suely e começou a lhe contar sobre todos os defuntos que ele já tinha ouvido falar:
- Vó – começou o pequeno – O vô Felipe morreu!
- É Henrique, o vô Felipe morreu, né, coitado!
- A Corina também morreu! (Explicação rápida: Corina era uma vizinha da família, falecida há uns 2 anos).
- Morreu também, né Henrique.
- O Tatu também morreu! (Explicação rápida 2: Tatu era um rapaz que faleceu e que os dois irmãos fizeram questão de acompanhar o velório).
A avó não disse nada, apenas continuou acompanhando o raciocínio do pequeno:
- O Zé Marcondes morreu e a Fátima... – Nesse ponto ele parou a conversa e olhou para a avó:
- A Fátima não morreu, Henrique – Completou Dona Suely.
- A Fátima não morreu, mas vai morrer! E vai deixar a churrasqueira dela pra gente.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Talvez se você mudar, eu não te ame mais
E aquelas chuteiras fedidas que você insiste em usar todas as terça-feiras quando diz que tem futebol antes daquela cervejada com costela.
Como diria Gonzaguinha (eu e meu saudosismo, mais uma vez) “... São tantas coisinhas miúdas, roendo, comendo, arrasando aos poucos o nosso ideal”. Algumas chegam até mesmo a ser engraçadas, como você não conseguir entender como duas horas no salão de beleza me fazem uma nova mulher, que fazer pé e mão e uma boa escova no cabelo é tão importante quanto seu time ganhar o Brasileirão.
Sim algumas coisas são de estrita importância pra mim, como Paula Toller (a Diva) na minha Playlist, mesmo você repetindo todas as vezes que ela desafina, que ela dorme todas as noites no formol, que ela destruiu a amizade entre o Leoni e o Hebert Viana (Meu Deus, de onde você tira essas idéias?) e que as músicas dela que eu gosto são mais velhas que eu (Embora eu me sinta levemente honrada com essa afirmação: Toda mulher gosta de se sentir mais jovem, mesmo antes dos 30).
Embora o som que eu goste seja de velho, as roupas que eu gosto sejam de velha (o que tem demais não usar saia acima do joelho? Não estou no “Esquadrão da Moda” – Ai se alguém me inscrever naquilo...) os lugares que eu gosto de freqüentar sejam aqueles com música ambiente, pouca gente e ninguém do lado enchendo o saco para que eu apague o cigarro (ainda mais agora com essa lei anti-fumo)...
Ah, vou aproveitar pra confessar que menti: Não parei de fumar! Todas as vezes que saio com as meninas (não só aquelas que você não gosta, mas aquelas que você gosta também, incluindo sua irmã mais nova) eu fumo e não entendo como você, o senhor “Sinto cheiro de cigarro a quilômetros” não percebe... Ou talvez você perceba e não diga nada, porque essas “coisinhas miúdas” não te incomodam. Esse seu jeito de não se incomodar por pouca coisa me irrita, e gera uma ponta de inveja também... Às vezes eu queria ser assim como você, mas só às vezes.
Voltando a questão de comportamento incompatível com a idade, embora todas essas coisas e as manias de velha como organizar as roupas por cores, os vestidos por tamanho e as sandálias por altura do salto e ter aquele gato gordo que só come e dorme e no meu apartamento, em momentos como esse, em que estou sentada na cadeira que range, olhando pra janela grande (que, diga-se de passagem, está precisando ser lavada) eu me sinto como uma criança, fazendo desenho com o lápis de cor e estou rindo de mim mesma, desta carta, porque daqui a pouco você chega, cansado, e ao mesmo tempo em que quer falar sobre os problemas do trabalho, não quer falar, pois está tentando aprender a deixar os problemas do trabalho no trabalho; E eu estarei aqui esperando, sorrindo, prepararei um capuccino bem forte e espumante pra você.
Talvez você tome um banho e juntos iremos ver TV até adormecermos, ou iremos para o quarto e faremos amor até cansarmos, ou simplesmente deitaremos um de frente para o outro e falaremos sobre o futuro... Não sei direito como será, só sei que quero estar aqui, te esperando.
Com amor...
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Escrever é assim
Acordei e pensei em você, na verdade não sei se esse que eu pensei é bem você, acredito que seja uma imagem boa sua que guardo comigo, afinal já se passou tanto tempo.
Vinte e três do oito, não sei exatamente porque, mas automaticamente eu ligo ao vinte e três do três do Leoni, que segundo o próprio, não tem significado nenhum, a data foi citada apenas em função do ritmo, rima, musicalidade... Uma pena! Lembrei que era seu aniversário ontem, quando fui assinar um cheque no supermercado e vi que era vinte e dois e que “Amanhã é vinte e três”... De novo Kid Abelha, embora “As cartas que eu não mando” seja apenas do Leoni, que fez parte da banda, mas segundo consta ele abandonou-a por questões do coração, um amor mal resolvido com Paula Toller.
A gente até foge, mas olha o amor influenciando de novo! É, “Amanhã é vinte três” fez isso com a gente, eu me lembro do seu aniversário de vinte anos (eu tinha treze) e também lembro que pensei em você na frase “Há vinte anos você nasceu, ainda guardo um retrato antigo”.
Acho que todo mundo guarda retratos antigos, tem gente que guarda por um tempo, e depois joga fora sem nem perceber, outros guardam e dão uma olhadela de vez em quando. Eu guardei suas fotos e algumas outras coisas: Cartões de várias datas, a embalagem do primeiro perfume que você me deu, fotos suas 3x4, fotos nossas. Eu guardo, mas não mexo nelas, não olho, mas gosto de saber que elas estão lá, no lugar de sempre.
Sabia que eu ainda tenho o costume de pensar que tudo que eu escrevo pode virar novela? Ah, e tem outra coisa, eu ainda vou escrever novela! Daqui uns anos você vai estar sentado na poltrona da sua casa, lendo a Veja da semana, vai ver a chamada, falando sobre a estréia da nova novela e vai ouvir meu nome, você pode não dizer (é, você não vai dizer), mas vai pensar: "E não é que ela conseguiu?"
Eu já achei que podia abraçar o mundo e ser o que quisesse, e confesso, bem diferente de você, eu pensava assim até pouco tempo...
Nossa, fugi do foco, eu estava aqui para escrever um texto pra falar de redação, das coisas que eu escrevo, na maneira como eu posso contribuir para o crescimento da empresa, falar coisas que me diferenciem dos demais que também estão em busca de uma oportunidade, mas... Eu juro que eu tentei prestar concurso pra trabalhar no banco (e quase passei), trabalhar no shopping, com eventos, com rotinas administrativas, mas, nesse tempo, os dias pareciam se arrastar, a minha pele não tinha cor e meu sangue corria frio por minhas veias... Eu confesso: Eu quase consegui me encaixar em algum desses espaços, mas não passei do “quase” (“Eu sei de quase tudo/E de quase tudo mal), me perdoem, mas essa eu peguei do blog do Felippe Aníbal.
Escrever... Viver pra mim é isso: Colocar tudo que eu penso no papel, conseguir ligar os parágrafos, concatenar as idéias e criar textos que eu gosto, que as pessoas gostam, elogiam e isso é uma recompensa sem tamanho pra mim: É isso que eu amo e sei fazer, é disso que eu espero viver, é com o dinheiro que ganharei escrevendo que eu vou pra Disney passear nas xícaras da Alice, é também com ele que comprarei para minhas afilhadas sapatos iguais aos meus, é isso que eu vou fazer até ficar bem velha e cansada. Escrever é passar aos outros tudo que eu sinto, que eu vejo, que eu tenho vontade de ser, é dar liberdade a alma... Escrever é eternizar
Eu acredito que sua vida já esteja certa, talvez você já tenha uma casa, um carro, amigos importantes, dos quais você ganhará bons presentes de aniversário: Um livro, uma caneta com seu nome gravado, camisas de marcas, uma garrafa de tequila (não sei, mas acho que você não deve tomar tequila)... Talvez você se dê uma viagem para Buenos Aires de presente.
E eu...
Eu só posso ficar feliz de todas essas coisas estarem acontecendo em sua vida, de verdade!
Não posso mudar o que passou, e acredito que se voltasse no tempo faria tudo igual, talvez com um pouco menos de pressa...
E de novo, pra você, que não vai ler, feliz aniversário!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Sete do sete
Pra onde vamos? No coração de outro cantor, pouco burguês e muito caipira o sete do sete também tem história. Talvez hoje ela já esteja um pouco adormecida, mas já deu inspiração para uma poesia cantada. E toda vez que eu a ouço meu coração se enche de paz.
Em sete do sete de dois mil e quatro Deus levou um anjo embora, um anjo pequeno, de quatro anos incompletos, cabelos encaracolados que vez ou outra se enroscavam nos meus dedos, um anjo de olhos de bolinha de gude. É bolinha de gude, afinal estamos falando de uma criança. Mas, eu agradeço a Ele por ter deixado esse anjo em nossas vidas, mesmo que por tão pouco tempo. Nosso anjo se foi, mas deixou paz, mansidão, um riso puro que ainda ecoa doce e melódico em meus ouvidos. E as horas intermináveis que ele passou conosco valem por mil anos.
“Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir! - E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto… E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão maluco. Será uma peça que te prego…" (Antoine de Sain't Exeupèry)
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Paulo


Eu vou chorar, sei muito bem disso e vou chorar mais ainda quando você ler, porque afinal, estas linhas têm um tom triste, de saudade, nostalgia, mas espero que daqui um tempo nós possamos rir delas, todos nós juntos, outra vez.
Quero te desejar toda sorte do mundo nesta nova jornada: A vida é assim mesmo, uma linha estreita, tênue, apoiadas em extremidades frágeis, que muda a todo tempo.
Ontem, no seu churrasco de despedida, eu realmente conheci o ser humano Paulo André Dognani, que tem determinação, força, metas, sonhos, mas que também tem sentimentos, apegos e principalmente medo.
Tenha medo Pa! Tenha medo do novo, do diferente, do certo: Permita-se sentir receio de largar tudo que você construiu aqui em 11 anos, das coisas que vai deixar pra trás, dos amigos que cultivou, de tudo que viveu. Permita-se chorar, pois homens também choram (e as mulheres gostam disso). Permita-se duvidar se essa é mesmo a escolha certa. Permita-se ter ao menos vontade de voltar atrás. Apenas permita-se.
Volte se precisar, faça de novo se estiver mal feito, ligue se sentir que a ausência está esfriando seu sangue, chore se doer, cante quando estiver feliz, fale sozinho se precisar preencher um vazio, beba se precisar de muita coragem, procure colo quando a solidão mostrar suas garras. Tenha asas para bater e raízes para voltar (eu ouvi isso no sábado e agora resolvi passar).
A vida não é feita só de escolhas, é feita de sonhos também: Ouça-os, de vez em quando.
“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar” (Gilberto Gil)
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Quatro vacas
Tempos atrás, João compôs a canção “Quatro vacas” e resolveu mostrar sua obra de arte ao nosso primo, Maurício, de 12 anos de idade, que dentre suas preferências estão os desenhos Dragon Ball Z e Naruto e seu time do coração é o Palmeiras, embora sua mãe tenha tentado persuadi-lo a ser São Paulino.
Enfim, num belo dia meu irmão apresentou a música ao Maurício, com direito ao acompanhamento da guitarra. Eis a letra:
“Menina, pare com isso, ainda te amo
Mas você é uma vaca e todos nós sabemos (3 vezes)
Sua mãe, não toma conhecimento, é outra besta
São duas vacas e todos nós sabemos (3 vezes)
Sua tia, tá sempre na esquina
Já são três vacas e todos nós sabemos (3 vezes)
Faltou sua avó, dona da zona
São quatro vacas e todos nos sabemos (3)”.
A canção foi complementada por um solo de guitarra, e ao final, singelamente, Maurício expressou sua opinião:
- Olha cara, ficou bom, mas acho que você tinha que tirar esse negócio de vaca.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O redator publicitário
Dizem que boas ideias são sempre bem-vindas, já no mundo da publicidade as boas ideias são bem-vindas e necessárias, títulos bem construídos, conceitos com soluções visuais, aquele texto tocante que chega direto ao emocional do consumidor, ideias inovadoras, mídias alternativas, projetos, algo que enchesse os olhos do diretor de arte, do empresário, do RH, de toda empresa.
Uma propaganda de meias, veiculada no dia dos namorados, pela TV, onde se mostrasse que todo mundo precisa de alguém: Um alguém para um jantar romântico, para aquele cineminha regado a pipoca, refrigerante e outras “porcarias” vendidas nas lojas de departamento, para aquela corrida no parque na tarde de sol, um alguém para tomar aquele chocolate quente na noite fria de inverno, pra pular carnaval abraçado naquela muvuca no nordeste do Brasil, alguém pra passear de gôndola na lua-de-mel em Veneza, pra tomar vinho na sacada do apartamento, olhando as estrelas, sem ter nada pra comemorar. Em situações como essa, um slogan como “Todo mundo precisa de um par”, seria mais que sugestivo, seria perfeito.
Ou simplesmente uma propaganda de um bombom tradicional no mercado, que se dedicasse a explanar sobre um dos melhores sabores da vida: o do beijo apaixonado como na infância, o sabor do primeiro beijo, depois, na adolescência, o sabor do beijo proibido, roubado bem rapidinho, no portão do colégio. Ou, logo após o “sim” o sabor do beijo consumado, o abre-alas de um mundo de sonhos.
Muitas ideias moram na mente de um redator, como a singela frase, completada por um abraço ao fundo: O melhor da saudade... É matar a saudade. Sugestivo, talvez, para uma companhia aérea.
Enfim, as idéias existem, e povoam a mente do redator, às vezes o que falta é uma oportunidades de elas serem vistas, lidas, usadas... É o que estou procurando, e de onde vieram essas têm muito mais!
Contatos
Luiza Marim é redatora, está disponível para o mercado de trabalho e também para freelancer.
Se alguém puder dar uma forcinha é só deixar o contato aqui, nos comentários ou por:
Email: marimluiza@gmail.com/
Orkut: Luiza Elena Marim (é só me procurar)
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segunda-feira, 14 de junho de 2010
História rápida I
Raramente meus pais me deixavameu dormir na casa de minhas amigas, normalmente eles me levavam para Piraju umas 22:30 e já na ida, combinávamos o horário que meu pai iria me buscar, normalmente as 05:00.
Sempre na ida eu e minhas amigas ouvíamos nossas músicas preferidas, que agora não me recordo muito, mas acredito que a maioria se resumia em estrangeirismos da moda.
Sempre, as 05:00 em ponto meu pai estava na porta da clube, algumas vezes de pijama, outras com roupas típicas, como suas camisas de flanela, o suéter azul claro, que na época já era velho, mas ele usa até hoje, e seu cachecol verde musgo. Meu pai sempre teve um gosto diferenciado para músicas, e na volta era ele quem comandava o som. Eu não discordava, porque pensava: Coitado, acordou 04:30 pra buscar a filha no baile e não tem nem o direito de ouvir suas músicas.
Mas, as músicas preferidas do meu pai eram, pasmem ou não: Hinos! Isso mesmo, meu pai tinha (acho que ainda tem) um CD que contém todas as músicas brasileiras patrióticas possíveis: Hino Nacional, da Bandeira, da República, Canção do Expedicionário, entre outros sucessos. Ora, ele alternava com músicas sertanejas raiz ou os melhores tangos de Garbel, mas na maioria, eram os famosos hinos. No começo eu tinha vergonha, mas com o passar do tempo eu achava meio normal e meus amigos também não reclamavam, afinal, uma carona às 05:00 da manhã não era de se dispensar, ainda mais pela trilha sonora quase exótica.
Hoje, porém, pensei nos pais; Não tanto no meu, porque a fase dos estrangeirismos e outras coisas da moda foi quase meteórica pra mim, mas sim, nos pais em geral. Será que eles também não passaram por situações em que sentiram um pouco de vergonha dos filhos, do comportamento, das companhias, do jeito de agir e se vestir?
Acredito que muitos passem por situações constrangedoras do tipo: - Tenho que levar meu filho e os amigos dele no show do Latino! E eles vão ouvindo o cd novo, ao vivo, o caminho todo! Que vergonha, Meu Deus, onde foi que eu errei?
domingo, 6 de junho de 2010
6 de junho
Eu poderia, mas não vou esperar minha velhice para escrever sobre esta data, se é, que algum dia meu espírito envelhecerá.
Domingo, dia ensolarado, temperatura mais baixa, mas eu adoro. Adoro o outono, as folhas caindo das árvores, os dias mais curtos, o anoitecer precoce, os casacos, as botas, as combinações com gorros e cachecóis, as bebidas quentes e mais fortes.
Ameno, sereno, calmo, transparente, sem alarde e sem muitas comemorações: Assim foram todos os 6 de junho, mesmo os primeiros. Hoje, se mistura há tantas outras datas, perdidas na folhinha, ou no calendário que se abre quando o cursor passa, no lado esquerdo do computador. Na verdade, não sei dizer qual dos dois meios que você utiliza para se localizar no tempo, esta questão consta na lista de coisas que não sei sobre você.
Na verdade não sei nada sobre você, sei o time que você torce porque é uma coisa que todo mundo sabe desde quando você tinha 9 anos idade. Não sei se prefere doce ou salgado? Frio ou calor? Montanha ou praia? Coca ou guaraná? Não sei sua música preferida, seu cantor preferido. Quem é o seu herói? Sente falta de alguém? Tem medo da morte? E do escuro? Quer ter família, carro e casa grandes, quintal com cachorro e três crianças correndo pra lá e pra cá.
O mais triste é pensar que eu nunca soube isso... Que foram anos de convivência e uma enorme lista de questões sem resposta. E porque? Porque um dia ambos acordaram e decidiram não querer mais, definitivamente não querer mais nada. Nem não saber...
Passou o tempo. Já são doze anos desde aquele primeiro 6 de junho.
Às vezes eu me esforço, afinal quero ter uma lembrança dos anos de convivência, uma lembrança boa, poder encontrar com você um dia na rua e dizer: “Bom dia”, “Sim, ele fez parte da minha vida, colaborou para que eu fosse quem sou hoje”, “Sua família é linda”, “Sempre torci muito por você”, “Seja feliz”, “Obrigada”.
Mas, o 6 de junho é só mais uma data, assim como o 13 de fevereiro, o 23 de agosto, o 5 de dezembro. Uma data que, mesmo meio tímida já foi festejada, esperada, lembrada com dor, saudade, ausência. Lembrada num dia, por acaso, ao abrir um celular para receber uma ligação, lembrado num dia de solidão, num quarto vazio e frio, lembrado ao lado de alguém que não significava nada, lembrado hoje, num momento confuso, mas que eu tenho ao meu lado o que sempre me faltou e hoje me completa.
6 de junho é uma data que ficou pra trás, meio esquecida e escondida pelo pó deixado pelos 12 anos de estrada. Pela janela, eu o vejo indo embora, na escuridão, seguido preguiçosamente de um céu estrelado “... São tantas coisinhas miúdas, roendo, comendo, arrasando aos poucos o nosso ideal”.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Obituário
A menina do nariz arrebitado, que não é do Monteiro Lobato, a moça do mundo cor-de-rosa, de personalidade forte, de olhar marcante, cabelo liso e as vezes franjinha.
Aquela que já plantou uma árvore, de caju (que com sal e pinga Nega Fulô é muito bom), que não tem um filho, mas já me confessou, em off, que já pensou num nome pra ele. Ela casou, e talvez até use uma aliança, que eu sei que ela também já está escolhendo. E juntas, vamos escrever um livro (um filme ou seriado também valem).
Ela, que guardava as idéias na manga, como um mágico ou o melhor jogador de carteado, com sua sequencia de cartas prontas, a esperar pelo momento certo.
Aqui jaz uma publicitária, e sua bagagem de idéias: Slogans a espera da imagem perfeita, textos a espera do roteiro ideal, palavras soltas, que juntas diziam tudo, palavras saídas do coração . Adeus às respostas na ponta da língua, e explicações para o inexplicável.
Fiquei triste, porque tínhamos planos, investir num trio de criação, com duas redatoras e um diretor de arte, íamos emocionar o mundo com nossas propagandas de apelo emocional. Porque passaríamos noites em claro com um briefing na mão e comemoraríamos o dead line com champanhe no outro dia.
Ela mudou de vida, de cidade, de ares, de idéia... E o mundo da Moda com certeza vai pagar pra ver.
Em seguida fiquei feliz. Pelo simples fato dela estar feliz.
A hora certa? Ela já se deu conta. E não teve medo de começar de novo, zerar o cronômetro, agora é fé em Deus e pé na tábua, como ela mesma gosta de dizer.
Mas sinto pela minha publicitária preferida. E o mundo vai sentir também.
Mas eu vou continuar, eu fiz essa escolha e vou até o fim (e ela sabe como ninguém que tenho dificuldades para voltar, reconhecer que estava errada, que é hora de mudar) Mas ela me aceita, me admira, tem orgulho... E pra mim é isso que importa.
Eu vou seguindo com minhas idéias anotadas nos inúmeros papéis.
E ela sabe que se precisar é só estender a mão.
Eu também sei.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
O mistério Machadiano
Machado ainda ocupa grande espaço, desde as mídias até as discussões e grupos de estudo: Dificilmente encontra-se uma lista de leitura exigida nos vestibulares brasileiros que não contenha “Dom Casmurro” grande obra desse brilhante escritor.
Capitu caiu no gosto popular (ou quase) no ano final de 2008, quando numa versão erudita foi notavelmente vivida (enquanto adulta) pela atriz Maria Fernanda Cândido na minissérie global, baseada no romance de 1899, que consta como a obra brasileira mais traduzida para outros idiomas.
Até a emissora número um (segundo o ibope) da televisão aberta cedeu aos encantos de Capitu, produzindo uma série lúdica e encantadora, reproduzindo ao pé da letra diálogos e cenas que sempre se inquietaram na mente dos seguidores e admiradores desse gênero literário, o realismo, merecedor de elogios e críticas ferrenhas, desde seu início, em 1881, com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, a ousada trajetória do defunto autor.
Machado é um mito, e seus personagens são verdadeiros merecedores de um espaço na mídia, como em minisséries, no caso de Capitu (2008), ou em adaptações para o cinema, como Capitu, de Paulo César Saraceni (1968), Criador e criatura - o encontro de Machado e Capitu de Flávio Aguiar e Ariclê Perez (1999), Capitu, de Marcus Vinicíus Faustini (1999), Dom de Moacyr Góes (2003) e para ópera, Dom Casmurro, de Ronaldo Miranda e Orlando Codá (1992).
O texto de Machado em Dom Casmurro, e sua adaptações expressam conteúdo, emoção, paixão, intriga e devaneios, deixando tudo sutilmente no ar, numa discussão que atravessa anos: O carater da menina dos olhos negros e profundos; Menina ou mulher? Todos os leitores (e admiradores) se deleitaram com o amadurecimento e despertar de Capitu para vida e para a sociedade carioca.
Mas, o que existe de tão especial na pseudo-aspirante a “carola” que ainda criança se apaixona pelo menino prometido ao clero: Um menino frágil, franzino e medroso, que passa metade da vida temendo a Deus por promessas não cumpridas.
Capitu representa a ousadia, a liberdade ansiada por grande parte das mulheres do século XIX, senão dos dias atuais. Ela mantém o brilho no olhar e sempre enxerga além, para longe dos padrões impostos: A mulher que a bucólica feminilidade brasileira espera se tornar: A mulher que rompe barreiras do machismo e da submissão, embora para aquela época, tantas aventuras fossem apenas, discretamente, permitidas na ficção.
E Bentinho murchava gradativamente com o desabrochar de Capitu, e enlouquecia com a velocidade com que a amada se tornava uma mulher pouco convencional (pelo menos aos seus olhos). Ela era dona de seus deveres e direitos, enquanto a Bentinho, só restavam fantasias e delírios.
É o inesperado desse romance que ainda fascina e desperta tantas discussões e a curiosidade de realitas, estudiosos, ou simples admiradores, que ainda não aprenderam a se contentar com a cultura empobrecida e alienada popularizada riducularmente (salvo raras excessões) pela mídia brasileira.
sexta-feira, 19 de março de 2010
A vendedora de sonhos de goiabada
Fez aulas de teclado
Aprendeu um pouco de inglês, o outro pouco ela esqueceu.
Arranhava um pouco de espanhol, bem pouco.
Ela cresceu:
O pai falou em Direito
Ela pensou em Letras
A mãe, a madrinha e mais meia dúzia de amigas delas, também professoras, disseram não.
Ela sozinha conheceu a publicidade
E se apaixonou
Durante a faculdade a vida lhe deu um presente: Uma amiga. Daquelas bem falantes, constante e intensa. Única... Só dela. E a cada vez que elas se encontram, podem ter se passado meses, ou até anos, mas a sensação é a mesma: De que se viram há poucos minutos. O assunto e a afeição são cada vez maiores.
Lá ela também conheceu um grande amigo, que chegou a pensar que era amor. Mas não era e nem era dela.
Ela terminou a faculdade.
Formou-se numa festa linda, mas linda mesmo.
Mas ela estava tão encantada com o momento que se esqueceu das fotos.
E chorou por isso quando o dia amanheceu
Mal sabia que aquelas imagens ficariam guardadas, de uma maneira mais que especial, pra sempre em sua memória, de um jeito único. De um jeito só dela, que só ela conheceria.
Hoje ela sabe disso, sempre que deseja, todas aquelas imagens reacendem em sua memória. E quando ela lembra da manhã seguinte a sua formatura, ela ri e pensa: Boba!
Ela foi trabalhar e também conheceu muita gente: Pessoas boas, que só queriam ajudar; Pessoas companheiras que queriam estar sempre por perto; Pessoas ruins que desejavam e faziam mal; Pessoas tristes e maltratadas pela vida e pessoas que eram tristes e maltratadas por elas mesmas. E esse foi seu primeiro contato com o mundo real.
Também conheceu o amor. E ela tinha certeza desde o começo que era amor. E só seu.
E a cidade do interior ficou pequena e longínqua pra tanto amor e tantas idéias.
E pra dar certo, ela correu atrás. Ela mudou.
Mas não mudou por ele, mudou por ela mesma.
Ela virou mulher, mas às vezes deixa transparecer a linda menina que mora em seus olhos.
E junto com essas mudanças vieram responsabilidades, como acordar cedo sozinha, comprar uma máquina de lavar e falar pouco ao telefone.
Ela tem um emprego na cidade grande. Um emprego que também lhe foi um presente de uma “nova” família que ela começou a amar espontaneamente.
Ela gosta do emprego. Mas não convence a ninguém, nem a ela mesma.
Mas é preciso... É preciso pra amadurecer de verdade.
Ela quer crescer, mas não consegue ir sem a publicidade, sem suas folhas rabiscadas, sem seus pensamentos soltos. Nem lhe passa pela cabeça deixar tudo isso para trás.
Ela tem grandes sonhos, dentre eles viajar pelo mundo.
Ela já plantou uma árvore, em 2000, ainda no colégio, na comemoração de 500 anos do Brasil. Era um Pau-Brasil.
Quer escrever um livro, a curto prazo
Quer ter um filho (talvez dois, ou até três), mas isso é a longo prazo
Às vezes ela tenta ser como as pessoas comuns.
Mas só tenta.
Ela só quer uma sala arejada, pintada de lilás ou verde limão, com um computador e muito papel, para que possa escrever o que quiser e quanto quiser.
Ela precisa escrever. Escrever faz parte de suas funções vitais. Pra ela é como respirar, comer e dormir.
E olha que ela dorme. E se inspira antes de dormir. Tem papel e caneta ao lado do colchão.
A noite é uma grande conselheira e confidente.
Ela confidencia muitas coisas a noite. Principalmente seus medos: O maior deles é ter que deixar seus textos para trás, para ninguém.
E por ter esse medo ela pára para escrever:
Ela escreve enquanto vê televisão, enquanto lava a roupa e cozinha; Interrompe o banho pra escrever (Sim, ela leva papel e caneta para o banheiro).
Ela escreve no terminal esperando o ônibus, enquanto vê as pessoas passarem.
Enquanto algumas pessoas passam, outras simplesmente vivem.
Ela escreve e essa é sua vida.
Assim o tempo passa.
Ela vê a vendedora de sonhos, que já vendeu todos os de goiabada.
Seu ônibus chega.
Ela entra, senta, se aconchega, guarda o lápis e o papel e vai em paz, com a alma leve.
domingo, 7 de março de 2010
Saudade
Será que eu posso ir aí na sua casa? Sinara, 5º Andar, a gente joga os colchões na sala, seleciona uma playlist daquelas (pode até ter pagode, mas não conta pra ninguém).
Como está frio, eu posso levar meu edredon rosa ou, até ir de pijama e All Star.
Se tiver chovendo, você vem me buscar de guarda chuva.
E depois, pra tentar chamar o sono, você pode preparar um chocolate quente, e enfeitar a borda com leite condensado e chocolate em pó.
E depois que o texto sair, podemos dormir, ou melhor, apagar a luz, passar todos os canais da TV (às três da manhã tem uma programação estupenda, digna de crítica)... A gente faz um esforço e critica todos.
Daí quando o sol estiver nascendo, a gente se rende ao sono... E dorme com os lábios até adormecidos de tanto riso e os olhos meio inchados, de sono e de lágrimas... Quem sabe de Allegra.
Eu sei que isso não é possível agora, mas já foi... Inúmeras vezes!
E quando a saudade bate, eu abro meu baú de coisinhas felizes, onde eu encontro fotos, papel de bala, ingressos de cinema, bilhete de viagens, cartões e o mundo de sensações, que poucas pessoas têm o privilégio de experimentar...
Eu fecho os olhos e tudo acontece mentalmente, numa perfeita riqueza de detalhes
Eu respiro fundo e sorrio para o nada... Na verdade é pra você!
Pode ter certeza, que eu continuo, mesmo de longe, usando o nariz de palhaço, só pra te fazer rir, cortando o caminho pra te encontrar mais cedo, esticando o pescoço pra te achar, pra você nunca se sentir perdida e sozinha...
Enfim, com você eu nunca terei medo de me sentir ridícula!
Amo... Infinito
domingo, 28 de fevereiro de 2010
O QUE É NA VERDADE MORRER DE AMOR
Um pouco longo, mas acho que vale a pena...
Não, isso não é um artigo sobre os poetas românticos da primeira metade do século XIX que morriam de amor (ou da falta dele), tuberculose e saudade e sim sobre uma onda de descontrole emocional, exaltação, irreflexão e total irresponsabilidade denominada “crime passional” que virou a sensação dos meios de comunicação em âmbito internacional.
A definição mais clara de crime passional é: Aquele cometido por amor. Amor que mata? Que faz sofrer? Que gera ódio, indignação, inconformidade? Que deixa marcas profundas e cicatrizes eternas? Há no mínimo uma pequena dose de inversão de valores nesse conceito atual.
Diante desse bombardeio de notícias, o que mais chamou a atenção, não só de leitores, escritores e formadores de opinião, mas de toda mídia, foi o caso Eloá Pimentel, da cidade de Santo André, ocorrido no final de outubro de 2008; Caso esse, diga-se de passagem, digno de causar inveja a teledramaturgia ou até mesmo as mais caras produções Hollywoodianas.
Com um enredo simples, composto pela mocinha: uma adolescente bonita, inteligente, cheia de vida e precoce... Muito precoce. Provinda de uma família pobre e completamente desestruturada, informação essa também confirmada posteriormente.
Considerando as relações familiares comuns, da típica família formada por pais e mães que se amam, se completam, se respeitam, a pergunta que mais inflamou na mente dos espectadores deste espetáculo quase épico de sangue e horror foi: Que tipo de pais deixam sua filha envolver-se com um “tipo” apontado desde o início do relacionamento, ou seja três anos atrás, como estranho, possessivo e ciumento.
A resposta foi divulgada da mesma maneira, pela mesma mídia e apontando o óbvio: Um pai fugitivo, acusado de vários crimes, que carrega uma identidade falsa, foragido da polícia há anos e uma mãe, que aceitou tudo isso calada.
A situação ainda contou com a presença de um personagem secundário (segundo algumas opiniões, quase antagonista) tão intrigante como todo o restante do elenco: A melhor amiga! Que assim como o assassino, se deslumbrou com o reality show que se transformou a periferia da cidade do grande ABC. Nayara também tornou-se celebridade, porém seus “cinco minutos” de fama se estenderam um pouco mais: Seqüestro, libertação, volta ao cativeiro para suposta negociação, alvo de uma bala, hospital e um misterioso, curioso ou mangado pedido: Pediu encarecidamente presença do atacante brasileiro que tua no Milan, Alexandre Pato. Talvez um pedido aceitável, vindo de uma menina de 14 anos... A menina desprotegida, que posou para as lentes da imprensa segurando um urso de pelúcia. Mas um pedido sem o menor propósito, se pensarmos no “homem” de confiança, designado pela polícia militar para negociar com o assassino. Atitudes no mínimo estúpidas e incoerentes de ambas as partes.
O ano de 2009, também não escapou ileso dessas notícias, mas nada teve uma repercussão tão estrondosa: Em janeiro, o motoboy paulista assassinou sua ex-namorada dentro de uma academia de ginástica na zona oeste de São Paulo. Um crime quase classificado como uma conseqüência: A vítima já havia registrado inúmeros boletins de ocorrência das ameaças que estava recebendo do ex desde o final do relacionamento e ela já havia sofrido agressões em seu local de trabalho.
O assassino já havia sido preso, respondia processo por roubo, apresentava (olha a coincidência) comportamento violento desde o início do relacionamento. Nesse caso, não deram muita importância a esses indícios: Nem a vítima, nem a família, nem a polícia, nem a imprensa, que cedeu bem pouco espaço (comparado ao caso anterior) a essa notícia.
Em março, um ex- jogador de futebol também matou a ex- namorada acidentalmente com 14 facadas e fugiu com o filho. Caso esse, que dispensa comentários.
Em contrapartida, enquanto folhava revistas antigas procurando mais exemplos de crimes passionais, deparei-me com uma revista, contendo uma nota discretíssima sobre a morte da viúva do compositor Dorival Caymmi.
Stella Maris, como era conhecida, faleceu apenas 11 dias depois do marido: Essa sim, seria uma história de amor digna de ocupar um espaço no horário nobre, ou no mínimo um bloco dos telejornais: Foram 68 anos de amor, trabalho, cumplicidade, convivência e versos que figuraram uma das famílias mais melódicas da história da música brasileira.
Stella e Dorival morreram de amor:
Ela foi internada em abril por problemas cardíacos; Ele lutava bravamente contra um câncer renal.
Ela ligava do hospital todos os dias pra saber como ele estava; Ele, diante da coragem e motivação que ela transmitia ia reagindo.
Ela entrou em coma; Ele mesmo sem ser informado, parou de se alimentar e entrou em depressão.
Ela, já sem forças, continuou na mesma; Ele, em pouco mais de uma semana, morreu de tristeza, de ausência, de saudade.
Ela foi encontrá-lo, onze dias depois.
E nenhum meio de comunicação dedicou mais que meia dúzia de palavras sobre o assunto.
Talvez esse mero exemplo de vida conjugal, essa maneira de “morrer de amor” esteja fora de moda.
E não sejam esses valores que importem realmente à mídia.
HISTÓRIAS DO PADRE SALVADOR
Ele é do tipo que visita a casa dos fiéis, efetua as bençãos, faz um lanchinho, tira um cochilo e logo pega amizade.
E assim aconteceu com meu pai e minha mãe. Meu pai tornou-se, por um tempo, assistente dele, vivia atrás do Padre Salvador com um caderninho, anotando as casas que deviam visitar, as visitadas, o povo ligava em casa querendo marcar hora com o padre. Teve até casos do Padre confessar pessoas em casa. Tornaram-se bem amigos.
Nesse contexto, de procurar o Padre para aconselhamento, eis que um dos coroinhas, de aproximadamente 17 anos vai lhe pedir um conselho:
- Padre, minha namorada terminou comigo e eu não sei mais o que eu faço...
E o Padre Salvador responde do alto de sua sabedoria, diretíssimo:
- Sei lá o que você faz, eu nunca namorei!
sábado, 27 de fevereiro de 2010
HISTÓRIAS DE FAMÍLIA
Minha tia mais velha, é chamada de Dada, casou-se muito jovem, teve três filhos (que já lhe deram netos e bisnetos também), separou-se muito jovem também, aos 29 anos e nunca mais saiu de casa pra nada. Voltou pra casa dos meus avós, eles morreram e ela continua lá sozinha, até hoje. Ela é do gênio difícil, que simplesmente virou as costas para a vida.
Essa minha tia sempre foi de contar histórias, e eu que apesar de ser do tipo falante, sou também uma boa ouvinte: Adorava quando ela ia em casa e contava histórias.
As melhores eram sobre ela e as primas mais velhas que colocavam o papel de seda que envolvia as maçãs argentinas nas gavetas de roupa, para tudo ficar perfumadinho e da tia, que morava na casa em frente a dela, que ia buscar água no quintal da minha avó e atravessava pelo meio da casa com os baldes cheios, molhando tudo.
E entre essas histórias havia a do Chibanti, um cachorro de estimação que comeu todos os docinhos da festa do José Bonifácio, marido de uma de suas primas, Angelina (Lina).
Nós crescemos ouvindo essa passagem e rindo da situação: Um dia, a história do cachorro comilão virou uma música e eu mostro a letra a seguir, uma letra simples, com uma melodia mais simples ainda, mas que retrata a doce e movimentada infância da minha mãe e de seus irmãos, e marca o início do meu livro de memórias.
CHIBANTI
(Luiza Marim/ João Marim/ Pércio Pereira)
Nada é mais como era antes
Que saudade do Chibanti
Me recordo aqueles dias
Só não tem fotografia
O quadrúpede adorado
Que por todos era amado
Não parava um instante
Que saudade do Chibanti
Mas, um dia numa festa
O cãozinho amarelinho
Num minuto de descuido
Comeu todos canudinhos
E fazê-los não foi fácil
Mas a Dada muito atenta
O serviço do Chibanti
Contou ao Zé Bonifácio
Chibanti o cachorro de verdade
Que deixou muitas saudades
Nos lugares que passou
Tristeza
Sinto falta do animal
Quatro patas, um fucinho
Enchia a casa de carinho
Sozinho
Em latidos dialéticos
Só que tinha um problema
Ele era epilético
Seu nome
Se escreve com CH
Nome belo e elegante
Que saudade do Chibanti...
Que saudade do Chibanti...
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Não gosto de você
Algumas pessoas sabem como ninguém como fazer mal a alguém.
E mesmo que você queira, se esforce, não consegue ser forte, não se abalar. Tenta ser forte: Veste sua melhor roupa, alisa o cabelo apesar do calor, até arrisca uma maquiagem.
Mas não consegue, não se sente a vontade, não consegue disfarçar seu desconforto e descontentamento.
E só pra você saber: Não gosto de você!
Todas as situações que nos envolvem e nos confrontam à parte, mas não consigo gostar de você (não me esforço pra isso também). E tenho argumentos.
Não gosto de você por insistir em usar marrom, por tentar sobrepor roupas e misturar cores claras, como o bege, que é derivado do infeliz do marrom com cores fortes e estampas. Um conselho: Não use marrom!
Não gosto de você por que seus olhos não combinam com sua testa, sua boca não combina com seu nariz, é tudo muito desproporcional, ficariam melhores se fossem separados, em umas cinco pessoas, mas não, juntaram tudo isso em você.
Não gosto de você por chamar, ou pelo menos tentar chamar atenção nos lugares , tudo bem, você é grande, mas não é duas, não é um carro alegórico e nem um outdoor. Então não tente ser o que não é, você não é simpática, não é carismática, nem todos ao seu redor te admiram, te querem presente nos mais variados momentos, gostam de você (ah, pra lembrar: Não gosto de você).
Acho que tentar ser amigas das crianças, forçadamente, também não é melhor maneira de ser aceita. Isso não funciona em território inimigo. Exagerei. Não sou sua inimiga, nem sua amiga, aliás não quero ser nada sua. Gostaria que você morasse no Pólo Norte e eu no Pólo Sul, não porque você me incomode por existir, mas pelo menos seria um pouco mais difícil pra você freqüentar os lugares que estou, principalmente festas em minha casa.
Você sim, tinha aliada, que tem um personagem para cada situação, e essa sim, me incomoda três vezes ou mais que você. Dela sim, pode ter certeza que consigo gostar menos.
Também não gosto da sua aliada.
Não se pode ferir alguém quando se é tão transparente quanto seus motivos.
Ser legal não é simplesmente achar que é legal. Quando se é legal não é preciso auto-afirmação. Mendigar amizade não é legal.
Não gosto de você por achar que seus defeitos não são percebíveis por todos: Alguém enxerido, arrogante e prepotente pode ser notado há quilômetros.
Pior do que ser e se achar, é não ser, e se achar.
E também tenho raiva de mim, por ter gostado e acreditado em você um dia.
Enfim, não gosto de você. E espero o mesmo de você. Esqueça esse texto também, afinal, quem escreve para alguém do qual não gosta?
Por toda minha vida Cazuza
Por toda minha vida - Cazuza
Poucas coisas ainda me emocionam na globo, algumas até me decepcionam como Big Brother Brasil e a ressurreição de No Limite, mas dessa vez, o especial “Por toda minha vida” arrancou lágrimas tímidas dos meus olhos.
Pode parecer estranho, mas quando vejo coisas sobre Cazuza me sinto tão parecida com ele. Cazuza era único, estranho, rebelde, sem limites, sem paz. Cazuza era ousado e eu adoro essa palavra. Até hoje conversei com um amigo, publicitário, que atua na área (finalmente um) que os clientes ainda hesitam em optar por campanhas e criações ousadas. Isso em 2009. Nem de longe quero me comparar a ele, não é essa a semelhança.
Mas Cazuza gostava de ficar sozinho, tinha bombardeios de idéias e frases, compunha em bares, na praia, em seu quarto, enquanto dirigia. Não tinha hora e nem lugar para uma boa idéia. E ele soube aguardar o momento certo de por sua criatividade e sua arte à tona. Não sou ousada, sou uma pessoa até comum, e não cabe em mim um espírito de rebeldia no século XXI, num país onde há democracia (pelo menos na teoria), governado por um sindicalista, a princípio de esquerda; Num tempo onde um negro é presidente da maior potência econômica, onde as pessoas voltaram embora do Japão por falta de emprego, devido a crise. O mundo em que a África do Sul, é a sede da próxima copa do mundo. E dessa vez, nem vou falar do Brasil, da Copa e das Olimpíadas de 2016. Não é esse o propósito.
Eu não tenho toda aquela disposição e garra pra perseguir um ideal. Poucas pessoas ainda acreditam em ideais, mas eu ainda me orgulho de fazer parte desse seletivo grupo. Mas enfim, algo muito forte me atraí em Cazuza. Ele era um poeta, um gênio, de carreira marcante e meteórica. Um ser humano que traduzia em linhas e melodias as dores do mundo, do amor, da entrega, ingratidão, remorso, ausência, saudade, solidão... Cazuza passou pela vida, não da maneira mais correta, foi louco e inconseqüente, e essas conseqüências foram suas, pelo menos, era assim que ele achava que deveria ser: Achava que somente ele pagaria por seus erros.
Mas, diante de depoimentos emocionados de amigos como Pedro Bial, Ezequiel Neves, Ney Matogrosso e Bebel Gilberto não foi isso que notou-se e sim um vácuo, uma dor adormecida que desperta com cada pequena lembrança: A de um riso despojado, de palavras debochadas e dos olhos ao mesmo tempo acolhedores e solitários: Olhos confortantes e clementes de ajuda.
Não acredito que exista uma pessoa que não conheça uma música sua, um refrão. Que não tenha pronunciado o célebre “Brasil, mostra tua cara”, seja na época das Diretas, no impeachment do Presidente Collor ou no escândalo do mensalão. Um apaixonado que nunca tenha escrito pra sua amada “Amor da minha vida, daqui até a eternidade”, que não tenha ouvido “Codinome Beija-Flor” após o fim de um namoro, ou usado algo do tipo “Hoje eu acordei com sono e sem vontade de acordar” no Nick do MSN, numa segunda-feira preguiçosa.
Cazuza é parte do Cotidiano de uma geração. Cazuza faz parte da minha vida. Cazuza era livre, polêmico e boêmio. Cazuza gostava de Cartola, e acreditava que “o mundo era um moinho”, ele escolheu o rock, mas não teve vergonha de mudar, de partir para Bossa Nova, não teve vergonha de escrever o que pensava, de mostrar para o mundo o que sentia.
E eu não tenho vergonha ou qualquer outro tipo de receio de dizer com todas as letras que sou fã do menino carioca, nascido e criado em Ipanema, o menino de cabelos encaracolados e rebeldes, o típico “Exagerado”.
E pra selar, uma das minhas preferidas:
"Quando eu estiver cantando,
Não se aproxime.
Quando eu estiver cantando,
Fique em silêncio.
Quando eu estiver cantando,
Não cante comigo.
Porque eu só canto só
E o meu canto é minha solidão.
É a minha salvação.
Porque o meu canto redime o meu lado mau
Porque o meu canto é pra quem me ama
Me ama, me ama".